terça-feira, 16 de março de 2010

Considerações sobre a Deriva Situacionista

Saí pra caminhar sem direção; eu nunca sei aonde vou parar. Há ruas de que gosto, outras quais não passo por lá. Meu relógio não tem horas. Meus passos não têm escrúpulos.





Assim como o flâneur, definido por Baudelaire como "uma pessoa que anda na cidade, a fim de experimentá-la", a Deriva Situacionista aborda um universo de certa forma concêntrico com a Flânerie, variando apenas no "mot de esprit". Podemos considerar a Deriva como uma espécie de evolução do flâneur, assumindo a cidade "como campo de investigações artísticas e novas possibilidades sensitivas" (JACQUES, Paola 2003).


A Deriva surgiu como proposta do movimento Internacional Situacionista, nascido na França pós-guerra, reflexo da pasmaceira e subserviência francesa à Nova Ordem Mundial. Tem raízes no dadaísmo e surrealismo e propunha uma espécie de jogo urbano, muitas vezes cheio de aventuras.


Espasmo do novo modelo de sociedade globalizada que se desenhava, foi inicialmente constiuído por jovens estudantes, questionando os valores propostos por sua geração antecedente - algo como aconteceu com a música dos anos 80, em resposta ao som já saturado dos anos 60 e 70.


Seu mentor, o francês Guy-Ernest Debord defendia a "construção de situações" pela busca e experimentação, pelo laissez-faire no âmbito dos desejos, tendo a arquitetura urbana como campo de estudos e atuação. Instigava o indivíduo a aventurar-se por caminhos nunca percorridos, como prédios em demolição, telhados, explorando situações inusitadas, tendo a própria cidade como mestre, ditando o próximo passo a ser dado.


Aborda também o conceito da "psicogeografia", ou seja, a influência que a geografica produz na mente do ser, provocando alterações dos estados sensitivos por meio das diferenciações geográficas.


No Brasil, o movimento Situacionista encontrou respaldo nos trabalhos, por exemplo, nos Penetráveis, desenvolvidos por Helio Oiticica.


As lições da Deriva permitiram formular as bases da arquitetura/urbanismo de uma cidade moderna, onde o espaço físico é tão consciente e senciente quanto o ser humano, animal social.

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